Doutora em Ciências da Linguagem
(Université de Grenoble-Alpes, França)
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Fabiane Puntel Basso
16 de ago. de 20193 min de leitura
Não basta saber ler, é preciso entender. Mas como avaliar a compreensão de leitura textual?
O objetivo da leitura é compreender textos de diferentes gêneros, como os textos encontrados em livros infantis, textos instrucionais para executar uma ação, e-mails, etc. A compreensão de leitura textual engloba uma complexidade de processos que vai desde o reconhecimento e precisão de palavras, fluência de leitura até as funções cognitivas como memória, atenção, funções executivas, inferências, linguagem e vocabulário. Por exemplo, uma leitura sem fluência, lenta, silabada, com decodificação trabalhosa, pode prejudicar a memória de trabalho, que fica sobrecarregada e atrapalha a compreensão dos textos lidos. A dificuldade de compreensão de um texto lido pode aparecer como uma consequência de problemas de decodificação (reconhecimento de palavras), mas nem todas as crianças que têm dificuldades com a compreensão têm problema de decodificação.
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Essa complexa interação de múltiplos componentes cognitivos e linguísticos tornam a avaliação da compreensão de leitura uma tarefa desafiadora. A avaliação é importante para identificar quais os problemas estão prejudicando o entendimento do texto. Afinal, não basta saber ler, é preciso entender! No mundo de hoje os textos estão por toda parte, entender o que se lê é uma necessidade para poder participar plenamente da vida social. Uma pessoa com dificuldade de leitura e compreensão vai ter dificuldade que vai muito além da língua portuguesa, todas as outras disciplinas vão estar prejudicadas, por exemplo, história, geografia, matemática... Por mais que a pessoa tenha potencial para assimilar o conteúdo, se a entrada da informação se der através da leitura, ela não vai ter o mesmo rendimento que os colegas. Na matemática, por melhor que seja o raciocínio lógico, a habilidade de contar, subtrair, etc., se a pessoa tiver que resolver problemas, partindo da leitura, ela vai ter dificuldade na resolução do problema, ocasionada pela má interpretação inicial. Em outras palavras, o nosso sistema escolar é totalmente baseado na leitura. Nesse sentido, um problema nessa habilidade vai provocar um prejuízo em todas as áreas do desenvolvimento escolar.
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No capítulo 9 desse livro da imagem, eu e algumas pesquisadoras do Neurocog mostramos todo o processo de avaliação e evolução do desempenho em compreensão de leitura de uma criança com transtorno específico de aprendizagem da leitura, escrita e matemática, que estava em processo de intervenção terapêutica, seguindo uma abordagem neuropsicológica. A avaliação de compreensão de leitura textual foi utilizada para conhecer a natureza das dificuldades da criança e auxiliar no estabelecimento de estratégias de intervenção.
Essa avaliação propicia várias análises quantitativas e qualitativas a partir da leitura silenciosa da criança de um texto narrativo. Em resumo, é realizada a análise do reconto da criança sobre a história lida e do questionário com questões literais e inferenciais sobre o texto.
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Na análise do reconto da história (recordação livre) é observada a completude, por meio da presença/ausência dos níveis macroestruturais do texto e cláusulas da cadeira principal da história. A coerência é analisada por meio da presença de inferências (predições), interferências (modifica o significado das cláusulas por misturar elementos presentes na história) e reconstruções (introdução de cláusulas que relatam fatos não presentes na história original) durante o reconto. Também é levada em consideração a organização do relato, como, por exemplo, a sequência correta dos eventos e nexos causais que os unem. A partir dessas análises, o reconto é classificado em uma das categorias propostas, que foram elaboradas com base na análise de centenas de crianças de quarto, quinta e sextos anos do Ensino Fundamental. Por fim, é realizado um questionário com questões literais e inferenciais.
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Lembrando que a avaliação da leitura textual deve ser considerada em sua interação com as demais habilidades envolvidas. Esse olhar integrado permite o melhor entendimento dos processos envolvidos nas dificuldades e transtornos de aprendizagem.
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Referência: Basso, F. P., Piccolo, L. R. & Salles, J. F. (2017). Corso, H. V., Piccolo, L. R., Miná, C. S., & Salles, J. F. (2017). COMTEXT - Avaliação da Compreensão de Leitura Textual. (1a ed.). São Paulo: Vetor editora.
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